Saímos de madrugada
Com o vento de Outono,
Na visita guiada,
P'lo sol cheio de sono.
Abrimos novas estradas,
Sob o céu azul-cobalto
E nas folhas acamadas,
Vendo o mar lá do alto.
O alto farol do cabo,
Preso aos raios de sol,
Refém do mar alisado,
Conta os anos do rol.
Os carreiros sinuosos,
Abertos na feliz serra,
Abrem os braços famosos,
Aos seres fartos de guerra.
Refrão
Na fugaz escapadela
Um mundo se revelou
A luz intensa saiu dela
E jamais se apagou.
Viver cada hora
No devir incerto,
Ignorar a demora,
Olhar mimo encoberto.
Vivemos o sentimento,
Gasto nas águas do mar,
Vedado ao forte vento,
Falado no franco olhar.
Cruzámos fontes de vida.
Com o velho pescador,
Vimos a força retida
Num humor encantador.
Sob o sol e a aragem,
E a luz morna reflectida
Nos rostos que não reagem,
Ao momento da vida.
Sob o olhar das gentes,
Demos carinho intenso,
Sob os olhares indulgentes
Até ao olhar mais denso.
Refrão
Na fugaz escapadela
Um mundo se revelou
A luz intensa saiu dela
E jamais se apagou.
Viver cada hora
No devir incerto,
Ignorar a demora,
Olhar mimo encoberto.
Depois do tempo inseguro,
A decisão arrojada
Minou o largo muro,
E a decisão encalhada.
Solta a prisão ferrugenta,
De longos dias de espera,
Fomos à terra magenta,
De memórias d' outra era.
Vimo-nos no são reflexo,
De duas almas aladas,
Fomos côncavo e convexo,
As partes mais alegres.
De vidas experientes
Já muito parecidas
Mas diferentes n' exigência
E em tudo conhecidas.